São muitas as contribuições de Diogo Portugal para a comédia brasileira. Além do comediante ter sido um dos precursores do stand-up comedy no Brasil, ele organizou o Risorama, o maior festival de humor da América Latina, criou e idealizou o programa Fritada e também foi curador do festival Risadaria.
E para falar um pouco mais de seu legado, os limites da comédia, suas inspirações, projetos e as polêmicas do mundo do humor, Diogo deu uma entrevista exclusiva à Privacy News.
Uma nova forma de fazer comédia
Diogo refletiu sobre como a produção e a divulgação de conteúdos de humor mudou nos últimos anos. Com o crescimento das redes sociais e um maior acesso do público ao mundo digital, agora é mais fácil se tornar conhecido no ramo, porém, isso também traz desvantagens.
“O legal é que existe uma facilidade e está mais democrático. Qualquer pessoa hoje tem condições de fazer sucesso na internet”, apontou Diogo. “O problema é a grande concorrência, que não existia na minha época”.
O astro adicionou que a era digital também faz com que os comediantes tenham que se reinventar com ainda mais frequência. Afinal, se você posta uma apresentação online, ela pode ser vista de qualquer lugar do mundo, o que, consequentemente, fará com que os fãs queiram ouvir piadas diferentes ao te assistir ao vivo.
“Vamos fazer uma comparação”, sugeriu ele. “Você pega o Roberto Carlos, que é um cantor que está há 50 anos cantando as mesmas músicas. Você vai no show dele, se ele não cantar aquelas músicas que as pessoas amam, elas ficam bravas”.
“A piada não, a piada é o contrário, as pessoas não querem ouvir o que já ouviram. A profissão de comediante pode ser muito ingrata nesse sentido, você realmente tem lição de casa para fazer o resto da vida. Você está a vida inteira correndo atrás do próprio rabo, não é fácil você se inovar na comédia”, continuou.
Bastidores do Fritada
E falando sobre se inovar, um dos grandes projetos que marcaram a carreira de Diogo Portugal foi o Fritada, programa de humor ácido onde um artista é convidado para se tornar alvo das piadas de vários comediantes e, ao final, pode devolver na mesma moeda.
Porém, apesar do tom de brincadeira da produção, Portugal revelou à Privacy que nem todos os convidados receberam as piadas tão bem.
“Se você me perguntar se já teve alguém que ficou bravo e tal, já teve. Cleber Bambam foi um, mas no fim o próprio Bambam entendeu e falou para fazermos de novo”, disse ele rindo.
“A próxima fritada vai ser com o Popó”, adiantou Diogo.
Os limites do humor
Mantendo o assunto de piadas polêmicas, Diogo – que costuma falar sobre política brasileira em seus shows – comentou sobre o atual momento que o Brasil está vivendo, onde as pessoas estão muito divididas entre partidos e qualquer menção sobre o assunto pode se tornar uma discussão acalorada.
De acordo com Portugal, esse comportamento também está afetando os comediantes: “Tem comedy clubs que são mais de esquerda, outros que são mais de direita, e eles não aceitam mais comediantes com visões políticas contrárias”.
Diogo estendeu a discussão mencionando sobre os limites do que é aceitável/ofensivo na comédia e declarou que, apesar de terem coisas que “obviamente você não deve falar” em uma apresentação, também é importante que os comediantes sempre se arrisquem e continuem levantando questões sobre o que é permitido em uma piada.
“Se você é um comediante e começa a dizer que não se pode falar disso ou daquilo, você fica escravo do teu próprio discurso e isso em algum momento vai pegar você. ‘Ah, o cara falou isso e agora ele desfalou’. Ou é ou não é. É melhor, então, dar liberdade para as pessoas falarem”, iniciou ele. “Não podemos achar que piada é opinião, isso é importante. O que mais está rolando hoje em dia é misturar opinião com piada”.
“A piada sempre, desde que eu me conheço por gente, teve um alvo”, continuou. “E ao mesmo tempo, se você quer falar de mim, eu tenho que aceitar. Eu não supervalorizo o julgamento alheio. Não podemos nos levar tão a sério, e algumas pessoas estão se levando muito a sério”.
“Isso é o que o comediante faz, te levar para uma surpresa que você não está esperando”, concluiu.
Legado
Quando o assunto é “legado”, Diogo Portugal deixou claro que quer ser lembrado pela “colaboratividade” que sempre aplicou em seu trabalho, apontando que a comédia de verdade é ainda melhor quando é feita em conjunto.
“Eu posso ser lembrado como um dos precursores do stand-up no Brasil, mas quero que lembrem que eu também abri porta pra muita galera”, apontou. “Eu criei o festival Risadaria na base da colaboratividade, com vários amigos juntos. O Fritada é colaboratividade. Eu não sou sozinho. Você não consegue fazer nada sozinho. Eu gosto de me sentir inspirado por outras pessoas”.
Vida pessoal
Por trás das câmeras, Diogo é um homem bem ligado à família. Inclusive, sua esposa Ana Silveira e sua filha Nina, de 12 anos, são duas de suas maiores fontes de inspiração.
“A família é muito importante”, disparou ele, chovendo elogios para sua parceira. “Ela me empurra muito, sabe? É uma pessoa muito inquieta e eu também sou um pouco. Ela tem uma atitude muito positiva de falar: ‘Pô, vamos melhorar, faz isso, faz aquilo’. E isso me empurra muito. A gente precisa desses provocadores na vida. Provocador nem sempre é a pessoa que te elogia”.
“A intuição da mulher tem razão. Não confie em alguém que a mulher não gosta”, adicionou.
Por fim, Diogo falou sobre seus projetos futuros e adiantou que, além de ter vários especiais e conteúdos para o Youtube prontos, ele está se preparando para o lançamento de seu primeiro livro, O Primeiro Stand Up: “Ele vai sair agora, se Deus quiser, até o final do ano”.
E para quem quer vê-lo ao vivo, Diogo Portugal se apresenta no My Fucking Comedy Club, em São Paulo, todas as quintas.