Na era das redes sociais, os comediantes enfrentam um grande desafio: a necessidade de adaptar seu conteúdo para a internet com o intuito de manter relevância online, algo que se tornou essencial para os profissionais da área. E Vina Aguiar é um exemplo dos talentos do humor que estão conseguindo lidar com essa alta demanda.
O astro do stand up, que acumula mais de 100 mil seguidores em seus perfis do Instagram e do TikTok (incluindo celebridades como Fábio Porchat e Whindersson Nunes), usa as redes sociais para alcançar o público mais jovem de forma criativa, desenvolvendo piadas com assuntos que estão em alta e transformando acontecimentos pessoais em experiências compartilhadas.
Carreira no humor e os desafios da nova era da comédia
Formado em Artes Cênicas na USP, Vina iniciou sua jornada profissional criando roteiro de desenho animado. Em seguida, ele passou por uma agência de publicidade, onde teve que escrever textos para as redes sociais, o que o ajudou a entender como criar um diálogo com o público online.
E essa habilidade serviu como uma luva quando ele encontrou a carreira dos sonhos: o stand up.
“Muitas profissões hoje em dia exigem que a gente faça uma certa autopromoção na internet e o stand up exige muito”, disse Aguiar em entrevista exclusiva à Privacy News. “Para as pessoas conhecerem e quererem ver seu show, geralmente elas me assistem primeiro na internet pra depois falar: ‘Que legal! Quero ver esse menino ao vivo’”.
Com isso, Vina começou a gravar conteúdo para impulsionar sua presença nas redes sociais, focando em vídeos que ele poderia produzir em casa.
“São coisas de momento, mais simples, que não precisam do público, não precisam de um horário certo”, explicou. “Hoje isso se tornou o tipo de conteúdo mais forte em minha rede, me colocando em contato com as pessoas”.
“O ritmo das redes exige que você produza e não fique pensando muito, então você tem que pegar essas oportunidades. É uma combinação de ouvir as ideias que eu tenho, desenvolvê-las, gravar, sentir o que as pessoas estão falando pela internet, misturar todas essas coisas e produzir com constância, porque isso também coloca a sua cabeça no ritmo”, continuou.
Inclusive, o comediante não acredita no termo “bloqueio criativo”, afirmando que a demanda e a necessidade fazem a produção engrenar.
“Quando você tem a necessidade, você cria. Às vezes não é a melhor coisa, e tudo bem. Às vezes você precisa criar algo e quem dita se vai ser bom ou ruim não é você, são as pessoas. Tem coisas que posto e penso que está ruim, mas a galera adora. Então, é mais sobre externalizar isso”.
Transformando “assuntos em alta” em conteúdo
E os conteúdos de Vina que mais fazem sucesso na web são seus vídeos e paródias sobre assuntos do momento, como a cultura pop sul-coreana e as redes de monetização de conteúdo, como a Privacy.
Em um de seus posts mais famosos, Aguiar simula ter um perfil fictício na rede social, onde ele finge ser um “pai presente” e cobra seus “assinantes” por demonstrações de afeto. O que ele não esperava é que iria conquistar um público fiel com esse conteúdo inusitado.
“O Brasil está necessitado de figuras paternas”, brincou ele, fazendo referência ao fato de que muitos jovens brasileiros não são próximos do pai. “Acho muito engraçado que isso é uma necessidade que as pessoas têm. Elas olham e falam: ‘Esse é um serviço de assinatura que eu pagaria, para ter um afeto paterno’. Achei interessante e decidi produzir algo sobre isso”, apontou.
Já quanto aos vídeos de k-pop, Vina afirmou que chegou a sofrer preconceito por gostar do gênero musical, mas também encontrou seu nicho com esse tipo de conteúdo, já que muitos internautas que eram zombados pelo mesmo motivo se identificaram.
No fim, isso fez com que Aguiar se sentisse mais confortável de expor suas preferências, seja na música ou em qualquer outra área.
“Já fui muito zoado na comédia por gostar de k-pop, mas eu fui aderindo isso para mim. Realmente gosto, entendo e consigo falar sobre isso. Aí você vai aceitando. É muito interessante que as pessoas assistam e gostem, te traz motivação”.
A comédia através da identificação
Vina também explicou que, para ele, a comédia está exatamente na identificação do público com o comediante. É por isso que o influenciador tem o costume de usar suas próprias experiências pessoais para criar piadas, muitas vezes se colocando no centro do assunto que está tirando sarro.
Isso também facilita a abordagem de tópicos sensíveis em seu trabalho – como machismo e masculinidade frágil – já que ao invés de apontar o dedo sobre posturas “engraçadas e contraditórias” de outras pessoas, ele também se inclui no diálogo.
“Eu sempre tento trazer um pouco da autocrítica”, iniciou o comediante. “Alguns homens pensam que não participam do machismo e falam: ‘Os homens são horríveis’, mas você também é um homem, você faz parte disso. Infelizmente, todo mundo faz parte disso”.
“Gosto de brincar de uma maneira que eu mesmo me insira na crítica. São coisas da minha realidade. Precisamos nos reconhecer antes de fazer a piada”.
Além disso, Aguiar não foge das críticas e entende que produzir conteúdo sobre assuntos mais polêmicos gera uma reação acalorada do público. Porém, ele acredita que sempre é saudável promover debates.
“Muitas atitudes que eu já tive no passado também foram complicadas, eu não sou uma pessoa que está imune às críticas. A partir do momento que eu coloco alguma coisa na internet, eu tenho que estar aberto ao debate”.
A arte de encontrar humor na tristeza
Concluindo o nosso papo, Vina falou sobre suas inspirações e refletiu sobre o poder transformador do humor, destacando como a comédia pode curar feridas.
Um dos assuntos que Aguiar explora nas apresentações de stand up é o seu diagnóstico de depressão. De acordo com o comediante, o exercício de tentar encontrar humor em sua luta com a doença foi “a primeira terapia de sua vida’ – e ele espera que suas piadas possam fazer o mesmo para os fãs.
“Desde que eu me conheço por gente estou fazendo piada com as coisas que me doem, para mim é um processo muito natural”, admitiu ele.
“No stand up tem uma frase muito famosa que é: comédia é tragédia + tempo. Então você passa por uma tragédia, processa ela e aí você faz piadas sobre isso”, adicionou. “Para mim, sempre foi um processo de lidar com esse luto, com essa tristeza”.
Adicionalmente, o influencer apontou que trazer esses assuntos ao público é benéfico e faz com que as pessoas tenham cada vez menos estigmas com doenças mentais.